sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Viajante

Memórias não são fotografias
nem mesmo relatos 
É um algo
Mesmo para uma desmemoriada 
Algo fica

Um algo que não se cataloga
posta ou compartilha
Algo íntimo
algo do ser
que só se sente de dentro
Algo poético e maravilhoso
um algo da primeira vez

Um algo do início
da insensatez
da descoberta
Da primeira vista
Do primeiro suspiro
Da paz primeira
Do apreciar
Dos segundos infinitos

Um algo que dá saudades
que silencia
boca, mente e coração

Um algo que não se explica
nem se pede
um algo que se chega e sente

quarta-feira, 15 de março de 2017

Querer

contorce, rasga, 
vira do avesso
revela, exibe
escancara

quente ela pulsa
respira
inspira 
afirma, empodera
encoraja

enfraquece, angustia
realiza

grita aos quatro ventos
vem!
mas vem já!

depois não me interessa
o fogo que me arrasta
é o mesmo que cessa

não, adianta
eu tenho pressa

porque agora
nada me impede
nem eu mesma
meu norte é o querer

sábado, 21 de maio de 2016

Separados

Não há mais sacrifício pelo outro
os amores são rasos, comedidos e finitos
servem pra suprir vazios
e quando o suprem, tornam-se descartáveis
repetidamente
drogas que aliviam sintomas 
não identificam a doença 
muito menos proporcionam cura

Questiono a ideia de completude
Sim, devemos ter qualidade de verbo intransitivo
sentido completo, sem necessidade de complemento
Mas o que impede termos sentido completo juntos
Universos ilimitados formando outros universos
...ainda maiores

Será que é bobagem?
Caretice de quem começa a se reconhecer como irremediável romântica?
Recuso-me a acreditar que nascemos e morremos sozinhos
Então porque contato, toque, vida em sociedade?
Se o destino é certo e imutável





 


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Projetos Engavetados

Por vírgulas, parênteses e reticências
por tirar outros projetos da gaveta
pelo teclado diminuto
e por não ter um puto
tostão

por não querer confessionário
porque não achar necessário
pelo céu azul
pelo céu nublado
pelo leite derramado
por falta de caneta a mão
e pelo excesso de interjeição

por esfarrapar-se de desculpas

terça-feira, 26 de maio de 2015

Reverbera


Você me questiona. "Isto é pra mim?"

Eu muitas vezes disse que não.
E a verdade é que eu nem sei escrever sobre amor.
A verdade é que eu não sei falar sobre.
Eu sei sentir.
E isso eu fiz.
Ahhh... E como eu fiz
Com todas as terminações nervosas 
todas as sinapses, todas as hematoses, 
cada movimento in ou voluntário
do meu corpo
com ego, com alma
com ânsia, com dor
com pele e respiração


Aí eu me questionei também.
Como é  que pode amar tanto assim ?
Até hoje não obtive resposta
O que sei é que...
Não suporto te perder
Nos perder, perder "nós"
Minha dor lateja

E a sua reverbera em mim

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Em aberto

não recordo de um dia sem choro
sem sentimentos fatigados, mastigados, aos atropelos
não cicatrizo ferida, apenas cravo outra
sou consumida pelos questionamentos
consumo minhas inquietudes
me perco
espero algo que não vem
procuro pelo o que é alheio a minha vontade
a configuração não me agrada
o tédio me distrai
em uns lampejos volto a mim
por simplesmente
não ter opção

sábado, 2 de maio de 2015

29 de Abril

Apesar de todo meu pessimismo com prazos, parcerias e casualidades
mantenho a "inocência" de quem vislumbra perspectivas melhores
mantenho a fé nas causas perdidas
em momentos de fragilidade, de confusão, de confronto
vejo oportunidade de mudança

vejo posturas mais maleáveis
vejo minorias ganhando número
vejo projetos ganhando corpo
vejo causas acima de individualidades

Vejo defesa da condição humana
dos direitos fundamentais,
e dos que vão além deles
(tão necessários quanto)

Então...
Vou optar sempre pela inocência
e pelos inocentes